domingo, 30 de novembro de 2014

Os beats afro na ginga de Larissa Luz


Cinco anos comandando a banda Araketu, provavelmente, fizeram a diferença na construção de Larissa Luz em palco. Uma das atrações presentes na quarta edição do Festival Suíça Bahiana, na cidade de Vitória da Conquista, a cantora roubou os holofotes na primeira noite do Clube D’Waller, e mostrou estar um passo além do som tradicional de axé desenvolvido na Bahia e feito, anos atrás, por ela mesma.


Apesar de preservar o berço da cultura baiana e usá-lo como essência do seu trabalho, Larissa traz o eletrônico na construção de uma sonoridade originalmente interessante feita pela fusão de inúmeras referências musicais. Com voz forte, figurino instigante e uma presença de palco de deixar o público hipnotizado, a cantora passeou por hits consagrados da Bahia, além de apresentar algumas faixas do seu disco “Mundança”. O estilo “maquinafro”, apelidado pela própria cantora, deixa evidente a mistura da ginga com os passos robóticos, em referência, justamente, à fusão da cultura baiana com as programações eletrônicas. Com a banda reduzida, Larissa teve a missão de esquentar a noite no maior palco do evento e dedicou muita ginga e muito talento nessa missão.

“Depois que o Ilê passar” e “Que Bloco é Esse?” marcaram a influência dos blocos afro no trabalho de Larissa, mas ganharam roupagens modernas e com interpretação bastante sensual. Entre as autorais, Larissa explodiu com “Descontrole”, mostrando também seu trabalho como dançarina, além de apresentar “Filha de Oyá” e “Dança Livre” – todas composições próprias. Se não bastasse tudo isso, o show teve seu ápice quando a baiana anunciou uma das músicas imortalizadas na voz de Nina Simone. Expondo a admiração pela composição de “Feeling Good”, que dá voz ao sentimento de perseverança de uma artista em seu pior momento de carreira, Larissa fez sua versão em português para o clássico e arrancou aplausos do público após uma das performances de maior entrega emocional da noite.

O mais instigante no trabalho solo de Larissa é o quanto ela consegue reinventar seu som, mas sem perder os verdadeiros traços da nossa cultura. As forças do Ilê, os misticismo baiano, a luz negra de um canto forte e sedutor e, sobretudo, o jogo de corpo em cima do palco despertam a admiração e o interesse pelo trabalho de uma artista que parece ter muita coisa ainda para entregar à música.

Larissa Luz interpretando a versão de "Feeling Good" no Circo Voador

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