quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Diego Oliveira revela os tons de Benjamin


Com um ar de pub para receber um verdadeiro show de folk, o Café Society foi palco do show de Benjamin, projeto assinado por Diego Oliveira, na noite de ontem (26). Com um repertório que mescla autorais e covers, Benjamin entregou delicadeza e intensidade em versos inspirados no cotidiano e, sobretudo, nas relações do homem com o seu universo ao redor.

Nossa equipe conversou com Diego Oliveira após o show e descobriu mais sobre o processo de composição do Benjamin, assim como as mudanças na carreira e as curiosidade do disco “Last”.

A gente vê muito folk no seu trabalho, mas também uma influência de outros gêneros e de outros ritmos. De onde que vem suas principais inspirações e suas principais referências?
Musicalmente, eu vou para muito lugar diferente. Cresci no heavy metal, é a música que eu ouço diariamente, e gosto muito de pop – pop mesmo, tipo Miley Cyrus. A referência do Benjamin, automaticamente, ela não parte desse viés musical quando estou escrevendo. Geralmente, a música nasce porque eu escrevo antes. A maioria das músicas, com exceção apenas de uma, veio de versos que eram poemas escritos para qualquer outra ocasião e acabaram se tornando música quando eu achei que o momento era oportuno. O verso em si traz um batimento, e ele ia me levando até eu definir qual era o dedilhar que eu precisava para não quebrar esse ritmo. 

Posso te dizer que, por mais que eu ouça muita música, eu acho que, musicalmente, eu teria poucas influências pro Benjamin, para trazer como influência. De repente, Almir Sater faz muito parte disso. Eu o ouço demais em momentos de pré-composição, e ele é um cara que me inspira muito na abordagem, na singeleza que ele traz para as coisas – claro, da minha forma limitada e não tão genial quanto ele. Tirando isso, é o heavy metal. As letras vão para esse lugar de mim com relação ao mundo, e a referência que eu tenho é toda disso, que é uma referência um pouco doída, uma referência de um cara que olha as coisas de uma forma meio de olho fechado. Eu sou extremamente pessimista, então, as músicas me dão esperança. Quando eu quero me tornar otimista para qualquer situação que seja, são as minhas músicas que me levam para esse lugar. É meio que uma batalha de mim com essa história do Benjamin, para que esse pessimismo meu não decorra o tempo inteiro. 

Dentro desse trabalho de composição, tem alguma história das músicas que estão no repertório do “Last” que você destacaria?
Ah, tem muita. Não vou destacar uma em específico, porque eu não estaria fazendo justiça com as outras. Todas elas são igualmente importantes para mim. Mas o período que eu vivi em Vitória da Conquista, vivendo na noite com meus amigos, com meus irmãos, dividindo uma garrafa de vinho por sete reais, deixando levar e ver aonde isso chegava, parando na casa de um e de outro e escrevendo alguma coisa, essa é a minha primeira referência ainda. Tirando isso, eu tenho uma relação muito forte com o ser feminino. Fui criado por mãe, avó, tenho uma irmã, sou casado. As referências que eu tenho de ser humano vêm dessa sensibilidade feminina, desse ritmo que elas têm para fazer qualquer coisa mínima que seja. 

Os títulos das músicas do seu disco são sempre com uma palavra só. Tem algum sentido isso, foi proposital, ou apenas aconteceu?
Tem uma palavra só porque eu acredito que tudo, absolutamente tudo na vida, você consegue definir com uma palavra só. Por mais que a gente consiga deflorar algumas situações e atitudes alheias com um discurso imenso, eu acredito que sempre vai existir uma palavra que seja o bojo da história inteira. Eu busco essa palavra para chegar ao bojo daquela música específica.

Por que “Last” para dar nome ao seu disco?
“Last” é uma brincadeira de palavras. Porque last por si só pode significar o último, mas pode se transformar no verbo last que é algo duradouro. Ele pode ser duradouro dentro da sua própria essência, de existir um disco só e eu continuar ouvindo, alguém que gosta continuar ouvindo durante um bom tempo, e ele durar nesse sentindo; e, ao mesmo tempo, ele pode ser último, porque eu realmente não tenho planos para o Benjamin, eu nunca tive. Eu faço as coisas de acordo com que elas me são dadas. Eu chego em um ambiente para tocar, eu entendo o clima e, se o clima for legal para uma música, eu vou trazer aquela música. Então, pode ser que esse disco seja o primeiro de alguns e dure, trazendo o last para o sentido de verbo mesmo, e pode ser que ele seja o último, que eu parta para outra, desencane e vá fazer outra coisa. Embora eu acredite que isso seja bem difícil, porque a música tem me ensinado muita coisa com essa experiência toda do Benjamin.


Você saiu de Vitória da Conquista e foi fazer seu som lá em São Paulo. Como você avalia essa mudança de cenário?
As pessoas em São Paulo são muito abertas, tem uma característica como ser social que é muito bacana para um artista independente como eu: o fato de consumir arte pagando. Não é nem pagar, muitas vezes, com grana. Você pode pagar com teu e-mail, por exemplo. Você mandar para um cara o link do disco para baixar, e ele te devolver o e-mail para, de repente, depois de um mês, receber uma notícia sua, ir ao show e tal. Ainda é uma prática que o brasileiro não tem, e é doloroso isso. Falo tanto como artista independente, quanto como produtor musical e dono de selo.

O que isso trouxe para o projeto Benjamin?
A cena muda, e, como eu dou uma importância muita grande ao o que o ser humano é perante a situação, automaticamente, cheguei lá e mudei muita coisa. São Paulo é uma cidade utilitária.  Você chega na cidade e percebe que alguém está indo para algum lugar e chegando de algum lugar para fazer tal coisa, para ganhar algo, pra consumir algo. Não é uma pré-programação, mas é um costume que eles encaram de uma forma super natural. A capa do disco inclusive ela vem retratar isso, uma fotografia do Caio Rezende, é o cara que está parado na frente do semáforo esperando pra ele meter o pé, sair fora e fazer as coisas dele. Aquela é a imagem que eu tenho de São Paulo, aquele acúmulo de atividade ao mesmo tempo todos buscando experiências diferentes. Quando eu fui para São Paulo, eu não tinha o disco inteiro escrito ainda. Muita coisa aconteceu lá. A última música do disco é uma das mais importantes pra mim. Ela se chama “Collapsed” e é exatamente o que eu acredito de São Paulo, 100% do que eu penso enquanto ser humano de um para o outro. “Collapsed” é uma música que foi um presente de São Paulo para mim.

A entrevista completa você confere no Mapa Mundi do dia 6 de dezembro. Não perca!

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