sexta-feira, 28 de novembro de 2014

O som eletrizante da banda Dost

Foto: Rafael Flores

Das bandas em projeção crescente na cena do rock alternativo de Vitória da Conquista, a Dost defende seu trabalho com muita intensidade. Atração na noite de ontem (27), no Viela Sebo-Café, local da segunda noite de shows do Festival Suíça Bahiana, a banda apresentou um show eletrizante e totalmente entregue às boas energias de um público já cativo. Com um repertório quase 100% autoral, a performance da banda atrai não apenas pela qualidade das composições (algumas já bem conhecidas dos conquistenses que frequentam a cena e cantam em coro), mas também pela sintonia e presença de palco. 

Conversamos com o vocalista Lucas Sampaio, há quase um ano na banda, que falou sobre as influências da banda, repertório, inspirações e sobre o cenário independente da cidade.

O show da Dost é bem eletrizante do começo ao fim, e isso se deve muito a sua atuação à frente da banda. Você se inspira em alguém para compor sua performance ou é algo mais intuitivo?
É bem intuitivo, mas eu não posso dizer que não tenho influências. No palco, antes de entrar na banda, eu sempre observava grandes artistas, inclusive artistas inesperados para o tipo de música que a gente faz, como artistas do axé - Saulo Fernandes, por exemplo. Eu posso dizer que a minha presença de palco, o que o pessoal costuma chamar de presença de palco, vem muito do que eu consumia quando eu era adolescente. Eu ouvia rock, mas gostava muito do popular. Depois, entrando para banda, eu percebi que essa jogada do palco em si puxa muito a atenção das pessoas. Eu acho que essa mistura do sofrimento com a música cola muito. Não só cola como é a vibe que eu gosto de fazer.

Com relação às influências da banda, quais são os artistas que inspiram vocês?
Individualmente, todo mundo tem influências diferentes, bem diferentes, inclusive. No meu caso, por exemplo, sou cria da MPB. Gosto de Caetano Veloso, de Chico Buarque e da nova MPB também. Eu entrei na banda e trouxe um pouquinho disso. Agora, a banda como um todo, se influencia basicamente pelas novas bandas indies que tem por aí, como Vespas Mandarinas, Selvagens à Procura de Lei. Os meninos tem uma preocupação muito grande em tocar o que é novo e, se for pegar alguma coisa que é antiga, transformar em algo novo, musicalmente falando. Eles falavam “e aí, velho, vamos tocar aquela do Strokes?”, e eu não sabia, não era muito minha vibe. A partir de então, tenho procurado interagir e tenho gostado muito.



Além de músicas autorais, vocês trazem releituras no repertório do show. Vocês descaracterizaram totalmente a música “Eu Sou Neguinha” e trouxeram uma coisa mais sombria, mais pesada, mas que não tirou a essência do que a música era. Como que funciona esse processo de transformar a música de um jeito de vocês, mas sem perder a essência do original?
É muito difícil. Essa é a parte mais difícil, mais do que fazer as nossas próprias músicas. Porque quando a gente leva uma música da gente, todo mundo já tá na vibe da banda. Quando é um cover, a música vem pronta, e a gente tem que transformar aquilo. É um processo árduo porque envolve cinco pessoas com diferentes influências e aí fica complicado. Mas quando a gente alcança alguma coisa que todo mundo gosta é uma alegria tamanha. “Eu Sou Neguinha” foi ideia minha de trazer, mas eu não tinha a mínima noção de como incorporar. Os meninos falaram “ah, Caetano Veloso e não sei o quê”, porque eles não tem muita ligação. Mas aí, quando eles começaram a tocar, eu lembro de Luan falando: “é o melhor cover que a gente já fez”, e eu fiquei feliz porque foi uma ideia minha, mas que eu não sabia fazer. Eles trouxeram em uma roupagem da banda, mas a gente preza muito pelas nossas músicas. Tem músicas que a gente tocou e que nunca foram gravadas, que o pessoal não conhece, mas como a gente sabe da pré-disposição para ouvir, não perdemos a oportunidade de tocar. 

Eu queria que você falasse sobre "Velocidade Insana", que é uma música que vocês estão trabalhando agora e, no show, todo mundo já canta. Como é sentir esse retorno do público?
A primeira vez que eu vi o pessoal cantando foi antes de a gente lançar. A gente gravou um demo e deu para alguns amigos. Esses amigos cantaram a música aqui no Viela e, naquele momento, eu senti que a música tinha força. Quando eu levei a música para os meninos da banda, primeiro houve uma resistência. É um blues e não é o que a banda toca. Mas sabe aquela música que tem que ter, aquela música que abre portas para, inclusive, a gente mostrar as outras músicas que a gente quer mostrar? Então os meninos começaram a trabalhar por insistência minha e, de cara, eles já falaram “a gente precisa gravar essa música”. Quando a gente lançou, no primeiro show que fizemos depois, nos meus poucos 23 anos de vida, eu tenho convicção de nunca senti uma coisa tão feliz. 

Quanto à cena alternativa de Vitória da Conquista, qual avaliação você pode fazer?
Sendo bem sincero, eu era totalmente fora da cena até pouco tempo atrás. Não tinha contato com as bandas, com o meio. O que eu posso falar é da cena atual. O pessoal é muito saudoso, fala dos domingos no Centro de Cultura, fala das quintas do Fora do Eixo no Viela, então, eu considero, sem comparativos, só essa cena atual. Acho a cena atual, aqui em Conquista, um pouco pobre - não em relação à qualidade das músicas ou das bandas, mas em relação a uma diversidade. Antigamente, tinha bandas grunge, bandas indie, rock anos 80, e eu acho que a galera começou a ficar sentida pela falta de espaço para tocar. As bandas que a gente tem hoje, como Dona Iracema, Nobres Companions, Complexo Ragga, por exemplo, são bandas que têm defendido muito bem seus trabalhos. Acredito que a gente tem uma cena forte nesse sentido, mas acho que o que mais falta aqui em Conquista são dois pontos: primeiro, obviamente, é lugar pra tocar; segundo é essa mobilidade de ter mais pessoas, mais produtores que levem as bandas daqui pra outros lugares. Além disso, falta investimento público, mais participação das pessoas do meio, generosidade do público em querer pagar para ver. 

Conheça mais da Dost aqui

Ouça "Velocidade Insana"


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