segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

A cena alternativa baiana com Scambo


Desde 1999 no cenário de música alternativa da Bahia, a banda Scambo trouxe na última sexta (28) um show que mistura influências diversas, sem deixar de lado as origens do rock. No repertório, músicas do último disco, “Fleure”, lançado em 2012, sucessos antigos da banda e ainda versões de outros artistas.

Conversamos com Pedro Pondé, vocalista da Scambo, logo depois do show no Festival Suíça Bahiana, e aproveitamos para fazer dessas novas influências no som da banda e do cenário musical atual.



A gente percebe a influência de diversos gêneros no som da Scambo. Ainda assim, vocês são uma banda de rock. Como é fazer rock dentro da Bahia?
A gente já mistura tanta coisa que eu não sei se a gente pode ser chamado mais de uma banda de rock. Acho que, hoje em dia, está mais para o pop, porque realmente tem muitas influências. Quanto a fazer rock na Bahia, existe uma limitação, que é mercadológica. É um mercado voltado para um tipo de música específica. Isso por um lado atrapalha, porque a gente não consegue se inserir no mercado de uma forma mais fácil, mas essa falta de facilidade faz com que a gente seja mais original. Você pode ir em dez casas diferentes de show em Salvador para ver bandas alternativas, e uma vai ser muito diferente da outra justamente por isso, porque a gente não está inserida no mercado mais fácil. A gente faz, realmente, o que a gente quer fazer, o que a gente gosta de fazer, não segue uma tendência só para sobreviver.

A Bahia é um celeiro enorme de referências culturais. Vimos vocês fazem uma versão de “Muito Romântico”, composição de Caetano Veloso, durante o show. Quais são as outras referências culturais baianas que vocês trazem para o trabalho de vocês?
Tem tanta coisa na Bahia, né velho? A gente escutou muito Gil, muito Caetano, eu escutei muito Maria Bethânia, minha mãe escutava muito Bethânia. “Carcará” veio disso. Eu até brincava com minha mãe que, quando eu era mais novo, ela escutava MPB da Bahia em casa. Eu, adolescente querendo contrariar, falava “po, que porre essa música!” e ficava escutando um monte de porcaria no rádio. Depois de um tempão, percebi que o que eu tinha escutado no rádio não tinha ficado e o que ela escutava tinha ficado na minha cabeça. Tem também uma inserção do Ilê Ayiê na música “Carnaval”, que é uma homenagem a um protesto. Não sei como isso reflete na música que a gente faz, mas a gente tem um respeito muito grande por pessoas como Gerônimo, Baiana System – que é uma referência mais atual feita com qualidade, inserindo a percussão na Bahia que durante muito tempo foi deixada de lado pelo alternativo para não ser mal vista – a Maglore, Vivendo do Ócio. Tem muitas bandas contemporâneas que a gente também admira.

Várias bandas de qualidade surgem e acabam sumindo porque não conseguem espaço na mídia. Ainda é muito complicado se inserir no mercado musical nacional?
As gravadoras se transforam em distribuídas e só pegam as bandas que já estão fazendo sucesso, não tem o interesse de lançar ninguém. São poucas bandas que estão aí há muito tempo. Existe uma repetição de bandas nas mídias que acaba enchendo o saco. As bandas novas têm a internet hoje e conseguem, com persistência, criar o seu público, fomentar seu trabalho. Mas é um trabalho de paciência também. Só fica no alternativo, que eu chamo de música verdadeira, quem gosta muito do que faz. Existe o pente fino ali que quem está esperando facilidade dessa vida sai. Em São Paulo, por exemplo, você pode ficar a vida inteira e não ser conhecido em um bairro, porque é realmente muita gente, muita informação, muita banda nova surgindo o tempo inteiro. Mas, é aquilo, você tem 50 bandas nascendo por dia, mas é que nem o crescimento da tartaruga, com a diversidade, sobra uma, duas, três que crescem, sobrevivem e ficam fortes.


Ouça “Janela” ao vivo

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