quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Oxe, tá pensando que música baiana é só isso?


Texto de Patrick Moraes e Mário Ribeiro

Enquanto meia dúzia de fãs discute a importância musical de algumas cantoras do axé music, a cena musical pelas terras baianas tem ganhado cada vez mais corpo e diversidade. Há quem se apegue ao axé dos trios elétricos como referência única de um estado que, desde sua formação, é marcado pela diversidade das influências culturais.

Do outro lado, ainda existem os que fecharam os ouvidos e parecem só enxergar a Bahia do consagrado quarteto Caê, Gal, Gil e Bethânia, com uma pontinha dos Novos Baianos e, talvez, uma dose de bossa nova com Caymmi e João Gilberto. As raízes clássicas da nossa música popular brasileira, apesar de essenciais para a formação de um terreno fértil, acabam, por vezes, “impedindo” que muita gente se delicie com o frescor de uma nova geração que não só vem chegando, como já chegou.

O cenário musical baiano vive um momento de experimentação e reinvenção da sua arte, e se mostra, dia após dia, por meio de uma mistura provocante e equilibrada de novos sons, caras, timbres e ousadia. Do interior à capital, o que se percebe é o incansável desejo de fazer música que respire novos ares e adentre por todos os cantos. Do samba ao rock, da poesia do sertão ao misticismo religioso, das guitarras baianas reinventadas às raízes indígenas e negras. Parece que experimentar é o lema quando baiano resolve fazer arte. Sem medo de misturar elementos, sem medo de beber do passado, sem medo de dar frescor ao que está sendo feito agora.


Falar de música na Bahia é poder alimentar os ouvidos com a poesia agridoce do grupo CAIM, que ainda dá seus primeiros passos, mas engrossa essa mistura com muito profissionalismo. É sentir o arrepio da pele com o resgate das raízes do povo brasileiro e a força do sincretismo religioso no trabalho de Saulo Fernandes e Mariene de Castro. É vibrar com o som das guitarras distorcidas (baianas ou não) de bandas como Baiana System, Pirigulino Babilake, Maglore e tantos outros nomes que despontam em trabalhos cheios de originalidade.

À música baiana, já não cabe definição. É tudo plural, sem amarras ou limites. Se atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu, seguir os passos dessa galera é garantia certa de novas descobertas.

Esse texto foi publicado na primeira edição
impressa da Revista Gambiarra

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